Dengaz e a Angels Surf School – Uma Relação “Para Sempre”
Março 25, 2016Cuidados a ter com o sol e com o calor
Maio 4, 2018Surfou pela primeira vez aos 9 anos, perdeu o interesse e só aos 13 lhe deu “a pica” para agarrar novamente na prancha. Passou a ser surfista de fim de semana mas em 1986 já era campeão de cadetes e 9 anos depois, quando parecia ter deitado tudo a perder, soube pelo telefone que se tornara campeão nacional. No mesmo ano foi vice-campeão europeu. Cinco anos depois fundou a primeira escola de surf de Carcavelos, a nossa Angels Surf School, que ainda hoje lidera.
Este é o olhar de Marcos Anastácio sobre a sua carreira, sobre o surf nacional e a Angels Surf School. O Marcos que gostava de “desfazer” ondas mas que sofreu da “mentalidade de melhor da rua” (um “problema” de toda a sua geração); Marcos, o pai de família e o empreendedor; Marcos, o surfista: de ontem e de sempre (apesar das “dores lombares”)… no seu Playground perfeito, Carcavelos, Portugal.
O que querias ser quando eras miúdo?
Cresci a ver a série “Os Cinco” e lembro-me que depois de regressar da escola ia fazer explorações dos terrenos à volta da minha casa, fazer casas nas árvores, cabanas e explorar umas minas de água que existiam numa quinta próxima. Mas respondendo à pergunta, queria ser marinheiro em barcos de carga, sempre tive um fascínio pelo interior de barcos de carga, era a única coisa que desenhava quando era miúdo.
Quando é que começaste a surfar?
Tive a minha primeira experiência aos 9 anos. Tenho de agradecer ao meu pai que, na altura, não queria que eu ficasse em casa a ver televisão. Ele era doido por futebol de praia e no fundo queria a minha companhia, mas como eu não ligava nada ao futebol acabou por comprar uma prancha ao nadador salvador do Pérola (um restaurante de Carcavelos) e lá fui eu. O problema é que não tinha amigos na praia e rapidamente perdi o interesse.
Foi só aos 13 anos, quando vinha de uma consulta médica, que ao passar de carro pela marginal, ao olhar para o mar, me deu a “pica” para lá voltar. A partir dessa altura passei a surfar aos fins de semana, mas rapidamente comecei a surfar também depois das aulas. A única coisa que os meus pais me pediam era para ter boas notas, por isso foi fácil integrar o surf na minha vida, não se opunham.
Lembras-te dos teus primeiros ídolos do surf?
Bem, nessa altura não havia muita informação do mundo “além-fronteiras”. Não tínhamos Internet, não existiam redes sociais… os nossos heróis eram os locais, como o Rai, o Ricardo, o Tomi… eram todos surfistas mais velhos e nós queríamos ser como eles.
Há algum em particular que tenha inspirado o teu surf?
Sempre gostei de surfistas carismáticos e inconformados. Acho que foi um privilégio ter crescido a ver o João Almeida, mais conhecido por Dapin. Ele personificava bem o inconformismo, a rebeldia. Foi o primeiro a sair de Portugal, foi viver para a Austrália durante 2 anos e trouxe de lá uma nova visão e as bases para o profissionalismo. A minha geração foi a pioneira, abrimos o caminho para estas novas gerações.
Em que ano é que te tornaste profissional?
Se bem me recordo foi em 1989, pelas mãos de outra pessoa muito importante na minha carreira: o José Souza Braga. Na altura, levou-me a um distribuidor de roupa de surf (a Gotcha); eu era a terceira escolha deles, no entanto, acho que cumpri tão bem o meu trabalho que representei essa empresa durante 15 anos.
Quais os melhores resultados que conseguiste na tua carreira?
Os melhores? Campeão de cadetes em 1986, Campeão nacional em 1995, Vice-Campeão europeu também em 1995, Campeão europeu em 1997…
Fui direto do avião para Sunset Beach. Foi uma experiência incrível! O power do Oceano Pacífico, a cor do mar, do céu… foi simplesmente inesquecível. Eu estava a viver o sonho de todos os surfistas: surfar onde nasceu o surf.
Algum teve um sabor especial?
Sim, o título de campeão nacional de 1995. Na última etapa, na Costa da Caparica, perdi muito rapidamente. No entanto, os meus rivais também foram eliminados. Lembro-me de ter ido para a noite e de me ligarem no dia seguinte a pedir-me para voltar para a Costa porque todos os meus rivais tinham perdido e eu era o campeão 🙂
Descreveram o teu surf como electrizante, concordas?
No início sim, eu queria desfazer a onda de qualquer forma! Mas com as experiências das viagens que fui fazendo vieram novas formas de ver o surf. Fiquei fã do surf de linha e de power.
Quando olhas para a tua carreira, de que é que sentes maior orgulho?
Confesso que não ligo muito a isso… Talvez das amizades que fiz, das pessoas que conheci e das experiências por que passei e que fizeram de mim um ser humano muito mais completo.
Tens algum dia, um local ou uma onda que te tenha marcado especialmente?
Sim! A primeira vez que fui ao Hawai. Fui direto do avião para Sunset Beach. Foi uma experiência incrível! O power do Oceano Pacífico, a cor do mar, do céu… foi simplesmente inesquecível. Eu estava a viver o sonho de todos os surfistas: surfar onde nasceu o surf.
E qual o maior arrependimento?
Talvez a minha mentalidade de ser o melhor da rua… acho que toda a minha geração sofreu dessa síndrome :). Estávamos contentes por sermos os melhores em Portugal e nunca nos preocupámos em fazer uma carreira internacional, nem que fosse para perder mas aprender! Naquela época não tínhamos ninguém a abrir as portas, nem existiam treinadores. Fomos nós, com as nossas experiências por cá e algumas no estrangeiro que fomos desbravando o caminho do futuro para as gerações atuais, que hoje sabem que para ser surfista profissional não basta ser bom em Portugal, é necessário conseguir competir no circuito mundial.
Quando deixaste a carreira abriste a Angels Surf School; conta-nos como é que aconteceu?
Bem, a minha carreira não acabou de um dia para o outro, simplesmente fui pai e o surf deixou de ser a minha prioridade. Comecei a trabalhar como sales manager de marcas de surf e skate e deixei de ter tempo para ser profissional de surf. Depois, tive um convite de 4 amigos para abrir a Angels Surf School num novo concessionário que tinha surgido na praia de Carcavelos, o Angels Bar, que tinha uma visão “muito à frente” e que conseguiu perceber muito cedo que o surf em Portugal tinha um grande potencial de crescimento.
Foi também uma forma de continuares ligado à modalidade?
Sim, acho que sim. Queria continuar por perto e passar toda a minha experiência às novas gerações. O surf deu-me tanto, estava na altura de ser eu a retribuir à comunidade.
É muito frequente vermos os melhores surfistas de Portugal (e também alguns internacionais) a treinar em Carcavelos antes dos circuitos nacionais e mundiais.
O que é que o surf pode “dar” aos miúdos?
Acho que o mais importante é a componente social e de autoestima: os miúdos adquirem confiança, tornam-se mais independentes e desenrascados. Importantes, são também os benefícios ao nível da saúde porque o surf permite exercitar todos os músculos do corpo e confere força e flexibilidade. Em síntese, poderíamos resumir tudo em torno da ideia de surf lifestyle que, apesar de ser muitas vezes utilizado como um mero cliché, remete para um estilo de vida descontraído mas responsável, que promove uma vida saudável e uma estreita ligação com a natureza. “Surf é vida” e é preciso compreendê-la e surfá-la da melhor maneira possível.
Carcavelos é a praia ideal para aprender a surfar?
Sim, completamente! Virada para sul, reúne todas as condições não só para quem quer ter a primeira experiência de surf mas também para quem pretende evoluir. É excelente. É muito frequente vermos os melhores surfistas de Portugal (e também alguns internacionais) a treinar em Carcavelos antes dos circuitos nacionais e mundiais terem início.
A escola foi crescendo ao longo dos anos; fala-nos um pouco disso…
Bom, no início era só uma brincadeira, mas em Junho deste ano já celebramos o nosso 15º aniversário. Tenho de ser honesto e confessar que no início nos faltava a componente pedagógica, era uma balbúrdia :). Mas era perfeitamente normal porque éramos pioneiros, não tínhamos para quem olhar e aprender como fazer.
Com o passar do tempo fomo-nos adaptando às necessidades dos nossos alunos e clientes e tornámo-nos cada vez melhores. Melhorámos o nosso serviço, estabelecemos uma metodologia de trabalho e fizemos da segurança o critério essencial para tudo o que fazemos. Eu sempre fui muito competitivo e, com o aumento da concorrência, quisemos distinguir-nos dos outros projetos, principalmente pela qualidade do ensino, pela relação de familiaridade que estabelecemos com os “nossos” miúdos e pela segurança. É engraçado porque o meu “truque” foi colocar-me no papel de pai (que também sou) e analisar o que é que eu queria para os meus filhos.
Porque é que um pai ou uma mãe deve escolher a Angels?
Como disse, pela qualidade e segurança na nossa escola. Temos 1 instrutor para cada 3 alunos, acompanhamento personalizado de acordo com o nível de aprendizagem, instrutores credenciados e com muita experiência e material sempre em bom estado para que os alunos se sintam confortáveis durante as aulas e os treinos.
Que tipo de aulas têm?
Temos aulas para todas as idades e níveis de surf. Para as crianças, somos pioneiros em aulas dos 6 aos 11 anos; fazemos grupos homogéneos, o que nos permite dar maior atenção e evolução de todos alunos. Depois, temos também aulas de iniciação (para as primeiras experiências de surf), aulas de progressão e aulas para avançados, quando já há um controlo maior e o aluno (jovem ou adulto) quer evoluir. Com esses, partilhamos também algumas dicas da nossa experiência (com mais de 30 anos).
Portugal é o playground perfeito porque temos ondas de todos os estilos: Beach Breaks poderosos, tubos perfeitos, Point Breaks e ondas mais intensas, sem esquecer, claro, as ondas gigantes da Nazaré
Mas há outro serviços, para além das aulas…
Sim, realizamos festas de aniversário, eventos de team building (para empresas, por exemplo), aulas com personal trainer (treino específico, ajustado às necessidades dos alunos).
Na Páscoa e no Verão somos também conhecidos pelas nossas Clínicas de Surf, actividades de ocupação de tempos livres em que fomos pioneiros e em que marcamos a diferença pela qualidade do serviço e pela forma como integramos os miúdos. E ainda este ano vamos ter uma novidade: pais, fiquem atentos ao nosso website! 🙂
Entretanto lançaste também o Portugal Surf Rentals. O que é?
Bom, com o aumento das taxas que as companhias áreas cobram pelo transporte das pranchas, achei que fazia sentido criar uma oferta de pranchas de surf e fatos para turistas. O Portugal Surf Rentals é isso: aluguer de material de surf de qualidade a um preço muito acessível. Porque não há nada pior do que querer surfar e não ter o equipamento connosco :).
Algum outro projecto na calha?
Não. Queremos muito solidificar a nossa posição com os projetos já existentes 🙂
Como é que vês a explosão do surf em Portugal?
Hummm… há 20 anos atrás éramos marginais 🙂 mas acho que esta explosão é perfeitamente normal, tendo em conta a qualidade da nossa costa (há quem diga que somos a Califórnia da Europa) e os fatores abióticos favoráveis. E também porque o surf é um desporto saudável e com estatuto de “boa onda”, o que contribui para reforçar a tendência. Não sei se já existe algum estudo sobre isso mas, depois do futebol, o surf é com certeza o desporto mais praticado em Portugal.
Achas que corremos alguns riscos com esta explosão?
A curto prazo não me parece, mas mais cedo ou mais tarde vai que ter que existir um controlador de crowd nas praias mais famosas. Até lá, vamos surfar por todo lado! 🙂
Temos mesmo das melhores ondas do mundo?
Portugal é o playground perfeito porque temos ondas de todos os estilos: Beach Breaks poderosos, tubos perfeitos em Carcavelos, Super Tubos em Peniche, Point Breaks para desenhar linhas perfeitas em Coxos e Ribeira d´Ilhas, ou ondas mais intensas em Super Tubos ou Cave, sem esquecer, claro, as ondas incríveis da Nazaré (que, para o ano, vai ter uma etapa no circuito de ondas grandes mundial). Todas está ondas fazem de Portugal um paraíso para todos os amantes do surf.
O que nos falta para sermos uma verdadeira potência mundial na modalidade?
Já somos! 🙂 As portas estão abertas. Kikas, Vasco Ribeiro, Miguel Blanco, Nicolau estão aí a “partir a loiça toda” (sem esquecer o trabalho feito pelo Tiago Pires também). Rapidamente vamos ter surfistas portugueses na elite do circuito mundial! Acredito mesmo que é possível que venhamos a ter um Campeão mundial mas penso que para isso temos de amadurecer um pouco mais, ter mais gerações de surfistas profissionais, como aconteceu no Brasil. “Tiro o meu chapéu” ao trabalho desenvolvido nos últimos anos por várias entidades, como o Turismo de Portugal e a Câmara Municipal de Cascais (concelho onde se situa a Angels Surf School), entre outras, que estão a colocar Portugal e a linha de Cascais no mapa mundial do surf.
Um pouco de talento, muita dedicação, muito trabalho e perseverança são as chaves para ser surfista profissional. Acreditem em vocês mas, acima de tudo, divirtam-se!
E tu, continuas a surfar?
Sempre que posso! O “bicho está lá” :)… e as dores lombares também ahahah. É o meu escape, a minha água benta. Sempre que necessito de “desligar o botão” pego na prancha e vou para a água como se fosse a primeira vez.
E os teus filhos, já surfam?
Sim, mas não tanto como eu desejaria. Têm talento mas por enquanto ainda “não é a cena deles”.
Que sugestão é que deixarias a um miúdo que sonhe ser surfista profissional?
Um pouco de talento, muita dedicação, muito trabalho e perseverança são as chaves para ser surfista profissional. Acreditem em vocês mas, acima de tudo, divirtam-se!