Angels Surf School - O vicio digital
Sites de Surf: o nosso vício digital
Maio 31, 2021
Angels Surf School - TripAdvisor Traveller's Award's
Angels Surf School distinguida com o Tripadvisor Traveller’s Choice Award 2022
Julho 5, 2022
Angels Surf School - O vicio digital
Sites de Surf: o nosso vício digital
Maio 31, 2021
Angels Surf School - TripAdvisor Traveller's Award's
Angels Surf School distinguida com o Tripadvisor Traveller’s Choice Award 2022
Julho 5, 2022

Aprender a ler os modelos de previsão de ondas significa poupança de tempo de procura de ondas, dinheiro de combustível e maiores hipóteses de estar no sítio certo à hora certa.

Os muito românticos que nos perdoem, mas a ciência é fundamental.

Longe vai o tempo em que os mais informados compravam o jornal para ver a previsão do tempo, os mais crentes se ajoelhavam diante dos boletins meteorológicos da televisão a rezar por sinais de boas ondas, os mais românticos contavam com a anciã sabedoria dos pescadores para obter informações sobre o próximo swell e o Almanaque Borda d’Água era a única tabela de marés disponível. Hoje em dia, a capacidade de ler corretamente os múltiplos serviços de surf forecast — neologismo anglicista para previsão de condições do mar para o surf — é a chave para guiarmos os nossos dias (ou semanas), programando as rotinas de forma a estarmos, sempre que possível, no sítio certo à hora certa.

Resultado de uma série de análises computadorizadas que cruzam informações de leituras de boias oceânicas e satélites meteorológicos, convertendo-as em gráficos de fácil leitura ou mapas animados com códigos de cores, as previsões dos serviços de surf forecast, não sendo ainda de precisão absoluta, podem antecipar com um grau de confiança razoavelmente alto quando e como uma ondulação irá chegar, em que parte da costa irá entrar melhor e quanto tempo irá durar.

Há imensos sites de previsão disponíveis e novos continuam a surgir, mas como tantas vezes acontece nesta era de abundância de informação, se antes estávamos cegos pela ignorância, agora estamos afogados em conhecimento. A confusão gerada pelo excesso de ruído é tanta que existe até quem abdique de qualquer previsão e adote o mais velho método de todos: ir até à praia ver como está. O problema é que por vezes nem isso funciona. A verdade é que não há como lutar contra a evolução, e se a tecnologia hoje nos dá ferramentas, espertos são aqueles que aprendem a usá-las.

Um dos serviços mais consultados, é o do site Magicseaweed.com. Com leituras localizadas para várias áreas do globo, possui uma em exclusivo para a Península Ibérica, que é aquela que nos interessa. O MSW tanto pode ser acessado a partir do site, no computador, como a partir da aplicação móvel, nos tablets e smartphones. Seja qual for o teu caso, o resultado é o mesmo, pois as informações disponibilizadas, incluindo as live cams (onde existem) são as mesmas, e aqui vamos ensinar-te a interpretá-las.

A primeira coisa a fazer é escolher a praia ou spot que queres explorar. Uma vez na página escolhida, surgem no ecrã uma série de tabelas informativas, contendo terminologia que é preciso compreender para melhor interpretar os dados e tirar conclusões sobre as condições de surf.

 

 

SWELL

As ondas são o resultado de ventos persistentes sobre a superfície do mar. Quanto mais forte for o vento, maiores serão as ondas. Se a tempestade que as gerou está muito perto de terra, temos ondas de vento, ou wind swell. Se ocorre num ponto distante do oceano, à medida que se afastam do seu ponto de geração e da ação direta da tempestade, as ondas organizam-se e transformam-se em ondulação, groundswell ou swell.

 

 

Angels Surf School - Blogue - Adeus bola Mágica

Quanto maior a distância percorrida pela ondulação, maior será o intervalo entre duas ondas, o chamado período do swell. Um período alto é o principal indicador de surf de qualidade, pois significa que o swell viajou durante muito tempo até chegar à costa, mas já lá vamos a isto com mais cuidado.

As ondas que atingem a costa raramente provêm de um só ponto do oceano, uma vez que normalmente há mais do que uma tempestade em atividade, com diferentes graus de intensidade e comportamentos (percurso de deslocação, amplitude, etc). Isso faz com que existam swells primários (a ondulação prevalecente), secundários, terciários, etc. Duas ondulações com a mesma direção, combinam-se para criar um swell maior, mas se as ondulações estiverem em rotas de colisão, podem anular-se uma à outra, dispersando a sua energia.

As tabelas do MSW apresentam a seguinte ordem de informações:

Hora do dia – Variação do swell – classificação do swell – swell primário – swell secundário – Vento (direção e intensidade) – condições do céu — temperatura média do ar

Considerando que colunas como hora, condições do céu e temperatura do ar são autoexplicativas, vamos analisar as demais variáveis.

 

CLASSIFICAÇÃO DO SWELL

Na tabela de previsão do MSW, a primeira coisa a observar são as estrelas, que classificam os dias de acordo com um critério de qualidade baseado na combinação entre a energia da ondulação e a direção do vento. As estrelas azuis indicam a força do swell enquanto as estrelas cinzentas indicam ventos desfavoráveis em ação. Quanto mais estrelas azuis na classificação, mais potencial tem o dia, significando que vale a pena investigar mais a fundo as restantes informações.

Angels Surf School - Blogue - Adeus bola Mágica

 

ALTURA DO SWELL

Aqui é onde se cometem mais erros de avaliação na leitura das tabelas de forecast, uma vez que existe a tendência para acreditar que a medida apresentada em tabela encontre correspondência no tamanho das ondas que vamos encontrar na praia. Nem sempre é assim.

Para começar, a altura do swell apresentada pelo MSW é baseada no tamanho médio das maiores ondas desse mesmo swell. Isto significa que as maiores ondas serão cerca de 1,5 vezes maiores que as da altura apresentada. Ou seja, num swell de 6 pés, as maiores terão por volta de 9 pés. Além disso, os tamanhos de onda apresentados são estimados a partir de informações obtidas nas boias de mar aberto. A forma como

 

PERÍODO DO SWELL

Mais do que a altura das ondas, este é o teu principal elemento de avaliação. O período é o intervalo de tempo entre as cavas das ondas, medido à passagem da ondulação pelas boias situadas ao largo da costa. Quanto mais longo for o período, maiores e mais alinhadas estarão as ondas. Pelo contrário, quanto mais curto for o período, mais pequenas e desordenadas elas irão surgir.

De modo geral, ondulações com períodos abaixo de 10 segundos são os chamados swells de vento, com as ondas a partirem muito próximas dos ventos que as originaram, não tendo tido tempo para ganharem energia e se organizarem em ondulações. Abaixo de 5 segundos o mar estará praticamente flat, enquanto entre os 6 e os 10 segundos haverá ondas fracas mas surfáveis, geradas por ventos on-shore.

Entre os 10 e os 12 segundos de período, as ondas começam a ter força para se distanciarem da região de ventos onde foram formadas e, embora não viagem por grandes distâncias, já têm power o suficiente para formar boas ondas nos beachbreaks mais expostos. Normalmente, as ondas geradas por estas ondulações apresentam o mesmo tamanho indicado nas previsões.

Um período entre 13 a 15 segundos já entra na categoria dos chamados groundswells, ou seja, ondulações geradas por tempestades distantes da costa, com força suficiente para atravessar grandes parcelas do oceano, ganhando boa formação ao longo do caminho. As ondas destas ondulações alcançam praias e spots afastados das tempestades que as geraram, ou seja, potencialmente terão boas hipóteses de encontrar condições de vento favoráveis, dependendo do quadro climatérico local. Em termos da leitura das tabelas, estes swells costumam resultar em ondas de tamanho superior ao indicado nas previsões e têm energia para fazerem funcionar pointbreaks e spots mais protegidos.

Já as ondulações que surgem com leituras de período superiores a 16 segundos, são geradas por tempestades extremamente poderosas e muito distantes, possuindo energia suficiente para dobrar promontórios e baías protegidas, part

indo com tamanhos consideravelmente maiores que os indicados nas tabelas de previsão.

Angels Surf School - Blogue - Adeus bola Mágica

 

DIREÇÃO DO SWELL

Outro fator de grande importância a ter em consideração quando se estudam as tabelas de surf forecast é a direção do swell, mas para tirar proveito dessa informação, convém conhecer as orientações mais favoráveis para as praias que te interessam. Para isso, nada como usar aplicações como o Google Maps ou o Google Earth, e perceber exatamente para o ângulo de determinada praia ou spot, levando em consideração os valores absolutos de 0° para norte, 90° para leste, 180° para sul e 270º para oeste. Quanto mais perpendicular for o ângulo de direção do swell em relação à orientação da praia, mais diretamente este irá atingir a mesma, potenciando a força e o tamanho das ondas. Passando o cursor por cima das setas indicadoras de direção de swell do MSW, obtém-se a graduação exata da ondulação em questão.

Nas mencionadas aplicações do Google, além do ângulo da costa, também se pode analisar a existência de fatores bloqueadores de ondulação, como ilhas próximas de terra ou curvas repentinas no litoral (cabos, penínsulas, promontórios, etc), e que podem afetar a forma com a ondulação atinge determinada praia ou spot.

 

VENTO

Se estás a ler este guia, pressupomos que já tenhas uma noção básica do que difere os ventos favoráveis à formação de boas ondas (offshore, que sopram de terra para o mar, alisando a superfície das ondas e tornando as paredes mais íngremes) dos ventos desfavoráveis (onshore, que sopram do mar para a terra e tornam a superfície aquática enrugada e irregular). Mas mesmo estas classificações apresentam variáveis que afetam a qualidade das ondas. De facto, entre o offshore e o onshore diretos, que sopram perpendicularmente à direção da praia, numa ou noutra direção, bastam alguns graus de alteração para estes se tornarem cruzados ou laterais, com diferentes efeitos.

Em Portugal, na maior parte do litoral o vento ideal são os do quadrante este, com aas setas a apontar da direita para esquerda, mas há algumas regiões, como, por exemplo, a Linha de Cascais, onde a direção mais favorável vem do quadrante norte, com as setas a apontar de cima para baixo. Tal como no caso da direção do swell, as ferramentas Google, quando bem aplicadas, são preciosas para determinar a amplitude gradual de ventos favoráveis para cada praia ou spot. Além de que a geografia de cada sítio é também um fator importante a considerar, já que a existência de barreiras ao vento, como falésias ou outras elevações circundantes, permite que alguns spots aguentem melhor os ventos desfavoráveis que outras. Mais uma vez, a experiência é um ponto chave.

Abaixo deixamos uma tabela interpretativa da intensidade dos ventos:

0-3 m/seg (0-6 nós) — Mar glass, superfície aquática espelhada, muito bom para o surf.

2-5 m/seg ou 4 (10 nós) — Leve brisa de offshore, ideal para o surf.

6 m/seg (12 nós) — Ainda favorável para o surf, mesmo com ventos laterais.

4-5 m/seg (7 nós) — Começam a formar-se os chamados carneirinhos.

8 m/seg (16 nós) e ou superior — Qualidade das ondas condicionada, especialmente se a direção for onshore.

10 m/seg (20 nós) ou superior — Ventanias deste calibre, mesmo sendo offshore, já atrapalham bastante. Com onshore, as ondas ficam desfeitas.

Passando com o cursor por cima das previsões de vento do MSW, consegue-se obter a interpretação dos números apresentados na tabela.

Angels Surf School - Blogue - Adeus bola Mágica

CONCLUSÕES

Além destes elementos que aqui apresentamos, há outros fatores importantes na previsão das ondas, como as marés, que afetam diferentes praias e spots de formas distintas. Aqui, só a experiência adquirida em sucessivas idas ao surf, ou as informações obtidas em algum guia de ondas fiável poderão fornecer os dados necessários para uma avaliação correta e precisa.

Se te queres tornar num expert em previsões, o melhor será aprender a dominar as ferramentas disponíveis nas tabelas mais básicas de determinado modelo de forecast, como as que aqui analisamos, e depois aprender a transferir essas leituras para outros modelos mais avançados, cruzando as diferentes camadas de informações. O importante é aumentar o teu conhecimento de como o mar e o clima se comportam e de que forma esse comportamento afeta as ondas que vais surfar, evitando ouvir o mais velho lugar-comum do surf: devias ter estado cá antes. Ou depois…

Comments are closed.